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Semeando rosas


Uma Rainha de Portugal, de nome Isabel, ficou conhecida por sua bondade e abnegada prática da caridade.
Ocorre que seu marido, o Rei D. Diniz não gostava das excursões da Rainha, pelas ruas da miséria.
Muito menos das distribuições que ela fazia entre os pobres. Não podia admitir que uma mulher nobre deixasse o trono das honras humanas para se misturar a uma multidão de doentes, famintos e mal vestidos.
A bondosa Rainha, no entanto, burlava a vigilância de soldados e damas de companhia e buscava a dor nos casebres imundos, levando de si mesma e de tudo o mais que pudesse carregar do palácio.
Não levava servas consigo, pois isto seria pedir a elas que desobedecessem às ordens reais.
Era humilhante, segundo o seu marido, o que ela fazia. Como uma Rainha, nascida para ser servida, realizava o trabalho de criados, carregando sacolas de alimentos, roupas e remédios?
Certo dia, ele mesmo a foi espreitar. Resolveu surpreendê-la na sua desobediência. Viu quando ela adentrou a despensa do palácio e encheu o avental de alimentos.
Quando ela se dirigia para os jardins do palácio, no intuito de alcançar a estrada poeirenta, nos calcanhares da fome, ele saiu apressadamente do seu esconderijo e perguntou:
Aonde vai, senhora?
Ela parou, assustada no primeiro momento. E, porque demorasse para responder, ele alterou a voz e com ar acusador, indagou:
O que leva no avental?
Levemente ruborizada, mas com a voz firme, ela finalmente respondeu:
São flores, meu senhor!
Quero ver! Disse o rei, quase enraivecido, por sentir que estava sendo enganado.
Ela baixou o avental que sustentava entre as mãos e deixou que o seu conteúdo caísse ao chão, num gesto lento e delicado.
Num fenômeno maravilhoso, rosas de diferentes tonalidades e intensamente perfumadas coloriram o chão.
Consta que o Rei nunca mais tentou impedir a rainha da prática da caridade.
*   *   *
Para quem padece as agruras da fome, sentindo o estômago reclamar do vazio que o consome; para quem ouve, sofrido, as indagações dos filhos por um pedaço de pão, umas colheres de arroz, a cota de alimento que lhes acalme as necessidades é semelhante a um frasco de medicação poderosa.
Para quem esteja atravessando a noite da angústia junto ao leito de um filho delirando em febres, as gotas do medicamento são a condensação da esperança do retorno à saúde.
Para quem sente as garras afiadas do inverno cortar-lhe as carnes, receber uma manta que o proteja do vento gélido é uma ventura.
Por isso, quem leva pães, agasalho e conforto é portador de flores perfumadas de vários matizes.
*   *   *
Há muitos que afirmam que dar coisas é alimentar a preguiça e fomentar acomodação.
Contudo, bocas famintas e corpos enfermos não podem prescindir do alimento correto e da medicação adequada.
Se desejarmos os seres ativos, envolvidos com o trabalho, preciso é que se lhes dê as condições mínimas. Não se pode ensinar a pescar alguém que sequer tem forças para segurar a vara de pesca.

Redação do Momento Espírita.
Em 27.12.2010.

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